JORNALISMO
Morreu o Otávio Frias de Oliveira. Façam uma pesquisa nas salas de aula dos cursos de jornalismo e nas redações de jornais, tvs e rádios e perguntem quem ele foi. Palpite meu : 100% não sabem.
Aproveitam também pra perguntar quem foi o Claudio Abramo, Palpite: 100%.
Hoje, eu ví os noticiários locais e nacionais da Record e da Globo. 80% são fatos policiais. Na mesma pesquisa, perguntem aos mesmos entrevistados o que sabem dos casos. Palpite: 100% sabem.
Morreu o Otávio Frias de Oliveira. Façam uma pesquisa nas salas de aula dos cursos de jornalismo e nas redações de jornais, tvs e rádios e perguntem quem ele foi. Palpite meu : 100% não sabem.
Aproveitam também pra perguntar quem foi o Claudio Abramo, Palpite: 100%.
Hoje, eu ví os noticiários locais e nacionais da Record e da Globo. 80% são fatos policiais. Na mesma pesquisa, perguntem aos mesmos entrevistados o que sabem dos casos. Palpite: 100% sabem.
5 Comments:
Em compensação, todos dão aula de hibridez, seja lá o que for tal coisa.
Para entender os Frias:
"Em 1964, a Folha apoiou a derrubada do presidente João Goulart e o estabelecimento de um regime de tutela militar - temporária, conforme se acreditava - sobre o país (...) A partir do final de 1973, o jornal passou a adotar uma atitude política mais independente e afirmativa, em vez da 'neutralidade' acrítica (sic) do intervalo 1968-1973." Folha de São Paulo, 30 de abril de 2007.
Vassalagem sob mão-de-ferro
Larissa Jansson
Durante o período da ditadura militar, a arte, os movimentos estudantis e a imprensa foram geralmente lembrados como os principais ícones de resistência - e vítimas - do absolutismo sanguinário que dominou a nação por mais de vinte anos. Nessa época surgiram mais de 150 periódicos regionais e nacionais de oposição ao regime militar. Era a imprensa alternativa como O Pasquim (1969), Bondinho (1970), Polítika (1971), Opinião (1972), Movimento (1974), dentre outros que representaram o ponto central de resistência à repressão na mídia denunciando a tortura, a censura, o arrocho salarial e a degradação dos direitos dos trabalhadores. Essa imprensa "subversiva" foi o alvo principal das investidas absolutistas. Jornais foram fechados, jornalistas presos, torturados e mortos.
A grande imprensa como Veja, Estadão e Jornal da Tarde publicava versos de Camões, Cícero - em latim -, receitas de salgados e doces que nunca davam certo e ensinavam os leitores a cultivar flores. Essas notas "especiais" eram publicadas nos espaços das matérias previamente censuradas na tentativa de mostrar ao leitor que algo não estava certo ali. Mino Carta - então editor da revista Veja - semanalmente redigia editoriais "subliminares" falando de demônios que barbarizavam um estranho País, ou desculpando-se por não poder contar algo importante para os leitores naquele momento.
Mas nem todos os veículos de comunicação cumpriram com seu esperado papel a serviço da liberdade e democracia. A história registra vergonhosos casos de representantes de diferentes mídias que não apenas se eximiram da obrigação de trabalhar contra a violação de direitos básicos das massas, mas que se venderam colaborando de forma até criminosa com os órgãos repressores. Alguns jornais e seus respectivos jornalistas não se uniram à resistência. Passaram para o outro lado.
História de uma traição...
Esse exemplo pode ser verificado na trajetória da Folha da Tarde, um dos periódicos do Grupo Folha, de propriedade da família Frias. Entrou em circulação pela primeira vez em 1.º de julho de 1949, permanecendo até 31 de dezembro de 1959. Retornou em 19 de outubro de 1967, sendo extinto em 21 de março de 1999 quando foi substituído pelo jornal Agora São Paulo.
A Folha da Tarde nasceu com o objetivo de apoiar e divulgar as lutas pelos interesses e causas sociais, como a cobertura de manifestações políticas e estudantis. Na redação trabalharam jornalistas ativistas de esquerda, membros de partidos comunistas. Mas depois do AI-5 - Ato Institucional n.º 5, que detonou os "anos de chumbo" e espalhou o terror no País -, a linha editorial mudou radicalmente. O expediente sofreu gradativas mudanças que culminaram em um cenário oposto: no período entre o seu ressurgimento até 1984, a Folha da Tarde passou a ser conhecida como o "jornal de maior tiragem" devido ao número de "tiras" - entenda-se como policiais - que passaram a fazer parte da redação. Jornalistas que foram censores federais faziam o trabalho da repressão.
O aparato repressivo da ditadura contava com departamentos como o Serviço Nacional de Informações (SNI) e o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), este ligado às polícias estaduais. No Estado de São Paulo foi criada a Operação Bandeirantes, a Oban, em junho de 1969. Patrocinada por alguns empresários paulistas, a operação reuniu militares, civis e, por meio de prisões, torturas e assassinatos, mostrou-se eficiente na tarefa de desarticular diferentes grupos oposicionistas. Passou a se chamar Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi, em 1970.
A promiscuidade da Folha da Tarde com o regime militar cresceu e chegou a tal ponto que o jornal ficou conhecido como "O Diário Oficial da Oban". Em suas páginas apoiava o absolutismo procurando justificar o que ele tinha de pior, ressaltando suas atitudes "em nome da segurança nacional". Pelas legalizações de mortes por tortura, distorção ou negação de inúmeros fatos, dentre outros absurdos, a Folha da Tarde se mostrou um fiel cão de guarda militar.
A impressão que se tinha era que enquanto outras redações estavam sob censura, a Folha da Tarde simplesmente passou a publicar o que os militares desejavam, destacando-se algumas vezes pelos detalhes apresentados unicamente em suas páginas. Na verdade, o governo utilizava o jornal para se comunicar com a sociedade e os opositores.
Alguns ex-militantes de esquerda "arrependidos" (Rômulo Fontes e Marcos Vinício Fernandes dos Santos, outrora apontados como "terroristas" pela imprensa censurada e presos pelos militares), após se declararem arrependidos e dispostos a abandonar a luta armada diante das câmeras, passaram a trabalhar na Folha da Tarde pouco tempo depois.
Na noite de 24 de outubro de 1974, Vladimir Herzog, diretor de Jornalismo da TV Cultura na época e membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi ao prédio do DOI-CODI na Zona Sudeste de São Paulo prestar esclarecimentos sobre sua conduta política. No dia seguinte, os militares divulgaram fotos que indicavam que Herzog cometera suicídio na cela. Mas as evidências e os testemunhos de jornalistas presos na época mostraram que sua morte ocorreu sob torturas.
O caso revoltou os opositores do regime e, uma semana depois, as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo foram paralisadas trabalhando naquele dia apenas uma hora, para que os jornais e revistas circulassem e rádios e emissoras de televisão continuassem suas programações. Uma multidão foi à missa em memória do jornalista na Catedral da Sé em um protesto mudo contra a repressão.
E a traição continuou...
Mesmo ante a repercussão deste fato, a Folha da Tarde não divulgou uma nota sobre a cerimônia. Ignorou totalmente o que aconteceu. Se dependesse unicamente daquele jornal, ninguém teria tomado conhecimento do que ocorreu. Esse é apenas um dos inúmeros exemplos de vassalagem sob a mão-de-ferro registrados em sua história.
A Folha da Tarde sacrificou tudo o que poderia oferecer de bom para seus leitores, quando preferiu conquistar comodidade e influência. Possuía a princípio uma proposta interessante comprometida com as causas democráticas e interesses do povo. Enterrou-a, contudo, fazendo questão de esquecer seu compromisso junto à sociedade paulista, maculando a história da imprensa brasileira, estorvando o trabalho e envergonhando a classe, cujos profissionais, famosos ou não, lutaram e lutam por meio do trabalho sério ao lado da verdade na batalha diária pela construção de uma democracia genuína.
Sou o anônimo que queria o endereço do blog. Não se apoquente de mandar que já fui lá e entendi tudo. Eles dizem lá que " aqui tem gosto pra tudo! Tem cinéfilo, “micreiro”, nerd, pseudo-intelectual, gente psica por limpeza, aqueles que não conseguem trabalhar sem ouvir suas músicas preferidas.... Enfim, definitivamente este será um espaço democrático, que vai mostrar um pouquinho de cada um que faz este Portal".
Sem preconceitos com a juventude, a turma tem a cabecinha fresca, é gente de outro tempo, que trabalha ouvindo música e sem medo de ser feliz. Um textinho bobo destes, de jornalzinho de escola de adolescente e a gente já sabe o que pode esperar.
É o perfil do jornalismo deles, que hoje domina muitas redações. Fazer o quê?
Assinar El País?
Ainda sobre os Frias:
A morte do “democrata” Octavio Frias
ALTAMIRO BORGES
O falecimento, neste domingo (29), do empresário Octavio Frias de Oliveira, dono do poderoso grupo de mídia Folha, revela um pouco da hipocrisia da política brasileira. Nas páginas da Folha de S.Paulo e até de veículos concorrentes, surgem dezenas de declarações destacando as suas virtudes de “democrata” e de “patriota”. É humano que haja respeito diante da morte e do sofrimento dos mais próximos; é natural, também, que os jornais pincem apenas as frases favoráveis, sem entrar no mérito das críticas. O que não ajuda é falsear a realidade. Não é educativo ficar tecendo loas a um figurão tão controvertido da história nacional. Um rápido levantamento confirma que o país não perdeu um democrata, muito pelo contrário.
Veículo da oligarquia rural
A Folha nasceu em 1921 sob o formato de um jornal vespertino, a Folha da Noite. Os seus fundadores, Pedro Cunha e Olival Costa, eram jornalistas de O Estado de S.Paulo e, durante algum tempo, o jornal foi impresso e distribuído por esta empresa. O próprio Júlio de Mesquita Filho, dono do oligárquico Estadão, redigiu o seu primeiro editorial. No início, o jornal manifestou simpatia pelo tenentismo e até encampou bandeiras progressistas, como a do voto secreto e do direito de férias. Mas, como registra Maurício Puls, numa cronologia bajuladora, essa linha durou pouco tempo e jornal logo virou um instrumento da direita.
Em 1929, com a saída de Pedro Cunha, a Folha passou a apoiar ostensivamente a reacionária oligarquia do café. “O resultado desta tomada de posição contra Getúlio Vargas foi a destruição do jornal. Na noite de 24 de outubro de 1930, a multidão que comemorava a deposição do presidente em São Paulo destruiu as instalações da Folha. As máquinas de escrever e os móveis foram jogados na rua e incendiados. Olival Costa assistiu ao empastelamento da esquina. Quando a multidão deixou o prédio, ele pediu licença aos soldados para entrar no prédio. Lá viu um homem vestindo seu sobretudo. Ao observar que aquela roupa era sua, recebeu a seguinte resposta: ‘Foi sua, amigo. Hoje, tudo isto é nosso’”.
A Folha deixou de circular até janeiro de 1931, quando foi comprada por outro barão do café, Octaviano Alves. Em 1932, apoiou abertamente a oligárquica Revolução Constitucionalista “para libertar o Brasil de um grupo que se instalou no poder empenhado em desfrutá-lo” – o mesmo discurso usado atualmente pela Folha. Em 1945, contrário às mudanças progressistas efetuadas por Getúlio, Octaviano vende o jornal por considerar “inútil o trabalho e insana a espera”. José Nabantino assume a empresa sob o compromisso de manter “a imparcialidade em relação aos partidos”. Mas, ainda segundo Maurício Puls, “sua orientação fiscalista guardava certa afinidade com a UDN” – a principal organização golpista deste período histórico.
Carregando presos para a tortura
Durante este longo período, a Folha de S.Paulo foi um jornal provinciano, sem maior projeção no cenário nacional. Em 13 de agosto de 1962, endividado e desolado com uma greve dos jornalistas, José Nabantino vendeu o jornal para os empresários Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho. De imediato, ele se tornou um dos principais instrumentos da conspiração golpista que resultou na deposição de João Goulart. Suas manchetes espalhafatosas contra o “perigo comunista” e seus editorais raivosos contra “a corrupção e a subversão” envenenaram a classe média. O veterano jornalista Mino Carta lembra que “a mídia vinha invocando o golpe há tempos... Neste período, a Folha de S.Paulo não tinha o peso que adquiriu depois. Mas os jornais soltavam editoriais candentes implorando a intervenção militar para impedir o caos”.
Numa entrevista à jornalista Adriana Souza, o atual editor da revista Carta Capital, que já dirigiu os principais órgãos de imprensa do país e avalia que “o Brasil tem a pior mídia do mundo”, dá outros elementos indispensáveis para se entender a história da Folha de S.Paulo. Ao contrário da propaganda deste jornal, que engana muita gente com o seu falso ecletismo e a sua aparente pluralidade, Mino Carta mostra que ele sempre serviu à ditadura e construiu sua pujança graças às benesses do poder autoritário:
“A Folha de S.Paulo nunca foi censurada. Ela até emprestou as suas C-14 [veículo tipo perua, usado na distribuição do jornal] para recolher os torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban (Operação Bandeirantes). Isso está mais do que provado. É uma das obras-primas da Folha... E hoje você vê esses anúncios da Folha – o jornal desse menino idiota chamada Otavinho – que parece que ela, nos anos de chumbo, sofreu muito, mas ela não sofreu nada. Quando houve uma mínima pressão, o Sr. Frias afastou o Cláudio Abramo da direção do jornal. Digo que foi ‘mínima pressão’ porque o Sr. Frias estava envolvido na pior das candidaturas possíveis na sucessão do general Geisel. A Folha apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do Exército, da chamada linha dura, fascista]. O Cláudio Abramo foi afastado por isso”.
Prosperidade durante a ditadura
Até hoje a Folha de S.Paulo, que gosta de posar de democrata e transparente, tenta esconder esse período macabro que revela todo o seu caráter de classe e a sua postura direitista. Alguns jornalistas, talvez para conseguirem as benções dos Frias, fazem de tudo para relativizar o papel deste jornal durante a ditadura. Mario Sérgio Conti, no livro Notícias do Planalto, até registra o episódio, mas de maneira deturpada e num linguajar tipicamente reacionário. Afirma que “até o final de 1968, as organizações terroristas de esquerda destacaram alguns de seus militantes jornalistas para trabalhar na Folha... No início dos anos 70 foi a vez de policiais dos órgãos de informação da ditadura se assenhorearem do jornal”.
Outro livro, o recém-lançado “A trajetória de Octavio Frias de Oliveira”, do jornalista Engel Paschoal, é quase uma peça publicitária de adulação do dono da empresa. O próprio autor confessa que o biografado é “meu tipo inesquecível entre todos”. Mas apesar destas tentativas de ocultar a história, o envolvimento da Famiglia Frias com os órgãos de repressão é inquestionável. Até já serviu para uma cômica disputa entre duas empresas reconhecidas pelo servilismo nos duros tempos da ditadura. Como resposta a uma coluna da jornalista Barbara Gancia, uma famosa lambe-botas da Folha que acusou a TV Globo de ter apoiado o regime militar, o diretor de jornalismo da poderosa emissora, Evandro Carlos de Andrade, deu o troco:
“Aproveito para recomendar que procure saber um pouco da história da Folha, empresa apenas comercial que prosperou extraordinariamente na ditadura, não graças à receptividade do público e à qualidade do que produziu, mas apenas em retribuição ao incondicional apoio dado por este jornal ao regime militar. A senhora por acaso já se interessou por saber a causa de, naquele tempo, serem queimadas as Kombis da Folha?”, retrucou o diretor da TV Globo (20/01/2000). Na fase mais cruel da ditadura, a Folha divulgava a “morte” de “terroristas” em “emboscadas com a polícia”, quando estes ainda estavam na prisão. A falsa notícia servia para acobertar as torturas, como no caso do assassinado de Joaquim Seixas. Como resposta, grupos armados incendiaram três peruas da empresa e o durão Frias passou a dormir no prédio da Folha.
Baluarte do receituário neoliberal
A briga entre a TV Globo e a Folha serve para elucidar que foi exatamente na fase mais dura da ditadura que a Famiglia Frias ergueu o seu império com base nos subsídios e nas benesses do poder. A cronologia apologética já citada registra que, em 1967, “a Folha dá inicio à revolução tecnológica e à modernização do seu parque gráfico. O jornal é pioneiro na impressão offset em cores, utilizada em larga tiragem pela primeira vez no Brasil... Em 1971, o jornal adota o sistema eletrônico de fotocomposição, pioneiro no Brasil”. No mesmo ano, lembra o texto, “o ex-capitão Carlos Lamarca, líder do grupo guerrilheiro MR-8, é morto pelo Exército na Bahia. O deputado Rubens Paiva é seqüestrado por militares e desaparece”.
Protegida pela ditadura, a Folha cresceu e passou a ter projeção nacional. Ainda em 1977, ela atendeu as ordens de Hugo de Abreu, outro general linha dura, que pediu a demissão do escritor Lourenço Diaféria, que escrevera uma crônica sobre um bombeiro que “urinara” na estátua de Duque de Caxias, no centro de São Paulo. No seu livro autobiográfico, “O outro lado do poder”, Hugo de Abreu descreve: “Telefonei para o doutor Otávio Frias e ele disse: ‘Meu general, estou aqui de mão na pala, fazendo continência’”. Apenas quando nota que o regime estava nos estertores é que o jornal passou a pregar a redemocratização, ao mesmo tempo em que se colocava como “pioneiro” do receituário neoliberal de desmonte do Estado.
Na sua badalada pluralidade, a Folha deu espaço para FHC e para o sociólogo tucano Bolívar Lamounier e abriu suas páginas para Plínio Correa de Oliveira, líder da seita católica Tradição, Família e Propriedade (TFP) e para o pefelista Marco Maciel. Num primeiro momento, apoiou o “caçador de marajás” Fernando Collor como única forma de derrotar Lula, mas logo depois engrossou o coro do impeachment. Durante os oito anos de FHC, ela nada falou contra as suspeitas privatizações e pregou a ortodoxia macroeconômica. Com a eleição de Lula, porém, tornou-se um dos principais instrumentos da oposição de direita. Mesmo colunistas com um passado mais crítico, como Clóvis Rossi, passaram a verter ódio contra o presidente.
A pregação do golpe midiático
Com a eclosão da crise política em maio de 2005, a Folha de S.Paulo virou um palanque da mais raivosa oposição. Ela chegou a fazer coro com os hidrófobos do PFL na proposta do impeachment de Lula, numa autêntica pregação do golpe midiático. Um atento comerciante paulista, Eduardo Guimarães, teve a paciência de acompanhar as manchetes deste jornal em setembro de 2006. Elas foram arroladas no seu blog na internet (www.cidadania.com) e impressionam pelo alto grau de manipulação. “As mensagens desfavoráveis para o candidato Lula são a maioria esmagadora... Já os adversários de Lula, sobretudo o principal, Geraldo Alckmin, foram totalmente poupados. Esse é um fato incontestável”.
As conclusões do comerciante foram confirmadas por dois institutos que monitoram sistematicamente a imprensa: o Datamídia, da PUC-RS, e o Observatório Brasileiro da Mídia, filial do Media Watch Global. O primeiro identificou que, entre 13 e 19 de julho, a Folha dedicou 778 centímetros/coluna de texto com tom positivo para Alckmin, enquanto Lula teve, no mesmo período, 562 centímetros/coluna de mensagem positiva. Já o Observatório pesquisou os principais jornais e revistas de julho a agosto, incluindo a Folha, e constatou que o Lula foi retratado de forma negativa em 47,41% das matérias, contra 31,2% em que foi tratado positivamente. No caso de Alckmin, a situação se inverte: 44,56% favoráveis e 31,42% negativas.
Apesar desta descarada manipulação, todas as sondagens eleitorais ainda apontavam a vitória de Lula no primeiro turno para o desespero dos “deformadores de opinião” da mídia. A “operação burrice” de alguns petistas afoitos, que tentaram comprar o dossiê da “máfia das sanguessugas”, apenas realimentou o sonho da direita de forçar o segundo turno. Aproveitando a ocasião, o filho de Frias, o yuppie Otavinho, afirmou em editorial que o dossiêgate comprovaria que “a cúpula petista instalou uma máfia sindical-partidária no aparelho do Estado. A função dessa máfia é garantir condições para que Lula e seu grupo se eternizem no poder... O que caracteriza os integrantes dessa máfia é a lealdade antiga e canina a Lula, o chefão”.
O tiroteio deste jornal na semana que antecedeu as eleições foi devastador. Manchetes sensacionalistas e centenas de matérias, até na seção de esporte, visaram satanizar o presidente e apelaram para o imperativo do segundo turno “pelo bem da democracia”. Pesquisa do Datafolha até foi antecipada, contrariando a Lei 9.504 que disciplina as eleições, para dar a impressão da inevitabilidade do segundo turno.
A distorção da Folha de S.Paulo foi tão brutal que até o seu próprio ombudsman, Marcelo Beraba, teve de registrá-la envergonhado. “O fato de considerar a conspiração para a obtenção do dossiê mais importante do que o dossiê não significa que eu esteja de acordo com o pouco empenho dos jornais na apuração das denúncias contra Serra e Barjas Negri [dois ex-ministros de FHC envolvidos na compra superfaturada de ambulâncias]. Uma cobertura não anula a outra” (FSP, 24/09/06). Na prática, a empresa do falecido Octavio Frias de Oliveira, que no passado cedeu suas caminhonetes para o transporte de presos políticos, hoje prega abertamente um golpe midiático. Esta conduta golpista, seguida pelo grosso da mídia, deveria servir ao menos para acabar com as ilusões sobre o papel imparcial dos meios de comunicação no Brasil.
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).
Salve Pai. Existem muitas formas de suicídio. Te cuida. Estou preocupado.
Post a Comment
<< Home